Na peça Vermelho de Paul Logan que tive o prazer de ver recentemente no Teatro Aberto e que retrata os últimos dias do pintor Mark Rothko, existe uma cena que não me tem saído da cabeça. Quando confrontado pelo seu ajudante com o facto de que toda a gente gosta do seu trabalho, Rothko responde: "Eu não quero que gostem do meu trabalho. Eu detesto que gostem do meu trabalho. Eu quero que respeitem o meu trabalho."
Infelizmente ao contrario de Rothko a maior parte das agências faz o seu trabalho apenas para o like, para ser gostado em vez de o fazer para ser respeitado. Para ser gostado pelo clientes, pelo consumidor, pelos focus grupos, por quem vai a passar no corredor, pelos amigos, pelos pais, pelos primos, pelo cão e pelo gato.
Rotkho, ao contrário dos homens de negócio que gerem algumas agências, teve a inteligência de perceber que para valorizar o seu trabalho, o seu negócio, mais que ser gostado ele e o seu trabalho, teriam de ser respeitados. Mas o mais incrível é que isto do respeito acaba por ser uma coisa muito comum. A Aretha Franklin canta, o Tom Cruise pede isso no Magnolia, qualquer hip hopper que se preze sabe o significado disso, até o Ali G. Então porque é que mesmo depois do livro Lovemarks onde um publicitário explica que a par do amor, as marcas precisam de respeito para serem valorizadas. As agências continuam a não perceber que é melhor um cliente chumbar uma proposta que respeite, do que aprovar uma que apenas goste.
Será que as agências não compreendem que ao criar campanhas que são feitas apenas para serem bonitas, feitas para agradar, feitas para não maçar, estão a desvalorizar toda a estratégia, conhecimento, raciocino, criatividade necessária para criar projectos que se pretendem respeitáveis. Estão a desvalorizar o seu próprio produto final. Será que não compreendem que este comportamento irresponsável está a desvalorizar um negocio, um sector. E o pior é que neste momento paga quem faz mal mas também paga que tenta fazer bem. Como se passou por exemplo no caso dos graffitties de Serralves.
Em vez de se continuar a baixar preços, oferecer campanhas ou dizer que se é mais flexível, se calhar era mais importante apresentar aos clientes ideias que os desafiem, que os façam pensar, que os surpreendam, que os obriguem a sair da sua zona de conforto, que os façam respeitar as agencias. Porque o respeitinho é bom e eu gosto, ou melhor, respeito.
Ps - Possivelmente com a criação de um botão respect no Facebook mais pessoas poderiam perceber a importância do conceito