Ou "A primeira ferramenta". Sempre me perguntei sobre quem nos lê. De qualquer maneira, aqui vai este longo lençol sobre as origens remotas da nossa actividade, com um título pedido de empréstimo a George Steiner. Olhar um pouco para trás pode ajudar-nos a melhor compreender o que somos e o que fazemos. O planeamento estratégico surgiu nas agências em meados da década de 60 – em 68, no escritório de Londres da JWT, como se convencionou - pelo lado do research, do qual se tem vindo, desde então, progressivamente a autonomizar. Hoje, para um planeador, mais importante do que o research em si é saber determinar que (tipo e quantidade de) research e demais informação se precisa em cada momento e, sobretudo, o que se consegue fazer com a que está disponível. Um planeador não faz mais do que procurar conhecer a forma como os consumidores olham e percepcionam uma dada realidade - trabalhando informação proveniente das mais diversas fontes – de modo a conferir um sentido a essa realidade que vá ao encontro de um determinado interesse. "Organizar" a realidade para lhe dar um sentido, é isso o que um planeador faz.
Hoje, passados 40 anos, não há muitas agências que não passeiem com alguma vaidade os seus modelos e ferramentas de planeamento estratégico ou, à falta de melhor expressão, as suas metodologias de organização da realidade (a par das suas subsequentes filosofias criativas). E às ferramentas de planeamento desenvolvidas pelas agências somam-se as que são produto do pensamento de diversos profissionais do meio – com ou sem um pé na academia - e de alguns, poucos, anunciantes com tradição na actividade (nomeadamente, os do grande consumo).
E a pergunta, ainda que retórica, a que importa dar resposta é: mas, e antes de 68 não se fazia planeamento estratégico? Claro que se fazia e nem sempre apenas de uma forma intuitiva - intuição, bela palavra, que não pode ser substituída por nenhuma ferramenta ou metodologia.
Fernando Pessoa, nome maior das nossas letras, fez qualquer coisa de muito parecido com o que todos os dias nós fazemos. Sobre Pessoa, escreveram Nuno Cardal e Rita Fragoso de Almeida, no livro comemorativo dos 65 anos da McCann-Erickson, de 1994 que “...foi, sem dúvida, um publicitário consciencioso e interessado como o documentam as suas “Considerações sobre um Projecto de Propaganda à Costa do Sol”, texto que denota um profundo sentido do que hoje em dia designamos por “estratégia de comunicação”, uma vez que no documento o poeta definia o destinatário da comunicação, um foco da mensagem,…
Contudo, e como em tantos outros domínios, precisamos de recuar à Antiguidade Clássica para encontrar a primeira ferramenta de planeamento. É de Aristóteles. Viu a luz do dia pela pena de Porfírio no “Isagoge” (literalmente, “Iniciação”), epístola que constitui uma excelente introdução à lógica aristotélica, designadamente aos problemas suscitados pelo estudo das Categorias Lógicas. Na sua “Isagoge”, Porfírio trata das formas como nos referimos às “coisas” quando procuramos definir o que cada uma destas é. As cinco palavras ou predicados envolvidos neste esforço de nomear um objecto são: género, espécie, diferença, propriedade e acidente.
Ao procurarmos definir uma “coisa”, podemos descrevê-la em termos do que esta é na sua essência ou em termos das características que a enformam para além da sua constituição essencial. Se a nossa afirmação capta a essência dessa “coisa”, podemos fazê-lo integralmente ou apenas em parte. Se descrevemos a essência da “coisa” de forma integral, temos a espécie, mas se a descrevemos apenas em parte, podemos ter: aquela parte que, apesar de essencial, pertence também à essência de outros tipos de coisas, que é o género; ou aquela parte que é única e a constitui como distinta dentro do seu género, que é a diferença. Por outro lado, se a nossa afirmação captar não a essência da “coisa” da qual nos referimos, mas, ao invés, as características e atributos além do que é estritamente essencial à mesma, estas características podem ser causa e/ou consequência da essência, caso em que temos a propriedade; ou não, caso em que temos o acidente. Confuso? O quadro em cima ajuda, espero. E não há nada como ver um exemplo. Líquido, Vodka, Absolutamente Pura, Garrafa ou a nacionalidade Sueca e o apoio às artes, são por esta ordem, a espécie, o género, a diferença, a propriedade e o acidente da marca Absolut Vodka.
Esta forma de organizar a realidade, ao procurarmos definir uma coisa, é exaustiva e exclusiva do ponto de vista da análise. E é, como perceberam, na “diferença”, que podemos encontrar a matéria-prima de um posicionamento, a base, como o nome indica, da sua diferenciação. Seja a “coisa” o que for.
Hoje, passados 40 anos, não há muitas agências que não passeiem com alguma vaidade os seus modelos e ferramentas de planeamento estratégico ou, à falta de melhor expressão, as suas metodologias de organização da realidade (a par das suas subsequentes filosofias criativas). E às ferramentas de planeamento desenvolvidas pelas agências somam-se as que são produto do pensamento de diversos profissionais do meio – com ou sem um pé na academia - e de alguns, poucos, anunciantes com tradição na actividade (nomeadamente, os do grande consumo).
E a pergunta, ainda que retórica, a que importa dar resposta é: mas, e antes de 68 não se fazia planeamento estratégico? Claro que se fazia e nem sempre apenas de uma forma intuitiva - intuição, bela palavra, que não pode ser substituída por nenhuma ferramenta ou metodologia.
Fernando Pessoa, nome maior das nossas letras, fez qualquer coisa de muito parecido com o que todos os dias nós fazemos. Sobre Pessoa, escreveram Nuno Cardal e Rita Fragoso de Almeida, no livro comemorativo dos 65 anos da McCann-Erickson, de 1994 que “...foi, sem dúvida, um publicitário consciencioso e interessado como o documentam as suas “Considerações sobre um Projecto de Propaganda à Costa do Sol”, texto que denota um profundo sentido do que hoje em dia designamos por “estratégia de comunicação”, uma vez que no documento o poeta definia o destinatário da comunicação, um foco da mensagem,…
Contudo, e como em tantos outros domínios, precisamos de recuar à Antiguidade Clássica para encontrar a primeira ferramenta de planeamento. É de Aristóteles. Viu a luz do dia pela pena de Porfírio no “Isagoge” (literalmente, “Iniciação”), epístola que constitui uma excelente introdução à lógica aristotélica, designadamente aos problemas suscitados pelo estudo das Categorias Lógicas. Na sua “Isagoge”, Porfírio trata das formas como nos referimos às “coisas” quando procuramos definir o que cada uma destas é. As cinco palavras ou predicados envolvidos neste esforço de nomear um objecto são: género, espécie, diferença, propriedade e acidente.
Ao procurarmos definir uma “coisa”, podemos descrevê-la em termos do que esta é na sua essência ou em termos das características que a enformam para além da sua constituição essencial. Se a nossa afirmação capta a essência dessa “coisa”, podemos fazê-lo integralmente ou apenas em parte. Se descrevemos a essência da “coisa” de forma integral, temos a espécie, mas se a descrevemos apenas em parte, podemos ter: aquela parte que, apesar de essencial, pertence também à essência de outros tipos de coisas, que é o género; ou aquela parte que é única e a constitui como distinta dentro do seu género, que é a diferença. Por outro lado, se a nossa afirmação captar não a essência da “coisa” da qual nos referimos, mas, ao invés, as características e atributos além do que é estritamente essencial à mesma, estas características podem ser causa e/ou consequência da essência, caso em que temos a propriedade; ou não, caso em que temos o acidente. Confuso? O quadro em cima ajuda, espero. E não há nada como ver um exemplo. Líquido, Vodka, Absolutamente Pura, Garrafa ou a nacionalidade Sueca e o apoio às artes, são por esta ordem, a espécie, o género, a diferença, a propriedade e o acidente da marca Absolut Vodka.
Esta forma de organizar a realidade, ao procurarmos definir uma coisa, é exaustiva e exclusiva do ponto de vista da análise. E é, como perceberam, na “diferença”, que podemos encontrar a matéria-prima de um posicionamento, a base, como o nome indica, da sua diferenciação. Seja a “coisa” o que for.
2 comentários:
Nuno, gostei bastante deste "prefácio", escreveste bem e sobre mais poderias ter escrito.
Esqueceste no entanto "algo" que entendo ser de primordial importância, não ao nível da demonstração filosófica mas da prática; refiro-me a Sun Tzu e à sua "A arte da guerra" - muita da estratégia contemporânea vem ainda beber aqui. É um "compêndio" de fácil adaptação às mais variadas áreas.
olá pessoal.
Venho assiduamente a este blog e gosto bastante até porque é a primeira vez que vejo um blog da área da publicidade que não é de escárnio e mal-dizer. Já estão adicionados ao meu e se desejarem, poderão fazer o mesmo aqui no Brief do Lombo.
abraço deste copywriter
http://ze-esquinas.blogspot.com/
Thanks
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